20/12/2015

Comemorações das Bruxas #1: A Roda do Ano.


Nos primórdios de nossa estadia na Terra, o ser humano vivia em contato direto e permanente com a Terra, o Sol, a Lua e as estrelas, sintonizado com os ritmos cósmicos e altamente influenciado pelas forças e manifestações da natureza.
Para garantir sua sobrevivência em um ambiente muitas vezes hostil, cheio de perigos e imprevistos, os humanos assim ditos "primitivos" observavam cuidadosamente os sinais e as mudanças da natureza a seu redor. Suas vidas e atividades dependiam dos ciclos do Sol e da Lua, das mudanças das estações, dos efeitos climáticos e da interação com as forças naturais ou sobrenaturais.
Eles não viam o tempo de forma linear, mas circular, cíclico. 
Os povos antigos consideravam a viagem circular da Terra ao redor do Sol uma roda, representando o eterno ciclo de nascimento e desabrochar, crescimento e florescimento, maturidade e frutificação, envelhecimento e decadência, morte e decomposição e, novamente, renascimento, refletindo na vida humana e na natureza. Em sua aparente trajetória anual, o Sol atinge dois pontos de afastamento máximo em relação ao equador celeste, tanto para o norte quanto para  sul. Esses pontos são chamados de solstícios: o de inverno marcando o dia mais curto do ano e o de verão, o dia mais longo do ano.

Os equinócios são os pontos de interseção dessa trajetória aparente do Sol com o equador celeste, determinando dois momentos em que o Sol se encontra exatamente sobre o equador, quando o dia e a noite tem a mesma duração. O equinócio de primavera representa o ponto mediano entre o solstício de inverno e o de verão, enquanto o equinócio de outono marca a metade do caminho entre o solstício de verão e o de inverno.

As oito celebrações, chamadas Sabbats, constituem em oito raios da Roda do Ano. Existem os quatro Sabbats maiores e os quatro menores.
Estima-se que os Sabbats são celebrados, em suas varias formas e nos mais diferentes lugares do mundo, há doze mil anos, marcando a relação da humanidade com seu meio ambiente telúrico, solar e cósmico.
Os festivais de fogo originaram-se no calendário agrícola. A palavra "Sabbat" tem origem no verbo grego "sabatu", que significa "descansar". Os Sabbats eram datas festivas, celebrando as mudanças da natureza, a alegria das pessoas e a reverencia às divindades. à medida que nossa sociedade tornou-se cada vez mais tecnológica, eficiente e complexa, os homens se distanciaram espiritualmente de nosso ambiente natural. Esse distanciamento resultou na atual crise ecológica e planetária,  a humanidade tendo esquecido que a Mãe Terra e o Pai Céu criaram e sustentam a nossa vida. Para superarmos essa barreira criada por nós, e sabermos honrar a sacralidade da natureza, devemos reconhecer nossa interdependência com suas leis, manifestações e ciclos e relembrar ou recriar, festivais que celebrem a passagem do tempo e das estações.


A Roda do Ano

A cada ano passam as luas, as estações, a natureza floresce, cresce, dá frutos, morre e depois renasce e volta ao mesmo ciclo. A Roda do Ano é a comemoração das leis da Natureza.
Há oito sabbats (festivais) no ano inteiro, comemorados na virada de cada estação, além dos solstícios e dos equinócios.
Os quatro maiores são: Samhain, Imbolc, Beltane e Lammas.
Os quatro menores são: Mabon (equinócio de Outono), Yule (Solstício de Inverno), Ostara (Equinócio de Primavera) e Litha (Solstício de Verão).

Aqui no Brasil geralmente comemora-se de acordo com as estações do hemisfério sul. Algumas bruxas preferem comemorar pela roda norte. É uma escolha de cada um. Pessoalmente, eu prefiro comemorar o Sabbat de verão em pleno verão, com as características do ambiente em que vivo.


Roda Sul (hemisfério sul)

  • Samhain - 1 de Maio.
  • Yule - 21 a 23 de Junho (Solstício).
  • Imbolc - 30 de Julho.
  • Ostara - 21 a 23 de Setembro (Equinócio).
  • Beltane - 31 de Outubro.
  • Litha - 21 a 23 de Dezembro (Solstício).
  • Lammas - 2 de Fevereiro.
  • Mabon - 21 a 23 de Março (Equinócio).


Roda Norte (hemisfério norte)

  • Samhain - 31 de Outubro.
  • Yule - 21 a 23 de Dezembro (Solstício).
  • Imbolc - 1 de Fevereiro.
  • Ostara - 21 a 23 de Março (Equinócio).
  • Beltane - 1 de Maio.
  • Litha - 21 a 23 de Junho (Solstício).
  • Lammas - 1 de Agosto.
  • Mabon - 21 a 23 Setembro (Equinócio).




O Mito da Roda do Ano

Os rituais e atributos dos oito sabbats são derivados do mito da Roda do Ano.
Milhares de anos atrás, a humanidade considerava a Grande Mãe como a origem de toda a criação. Considerada uma figura complexa, andrógina por se autofertilizar, ela tanto criava a vida como era a própria vida. Com o passar do tempo, surgiu a figure de Deus como filho e consorte, gerado pela Deusa e, ao tornar-se adulto, unindo-se a el, morrendo e renascendo em um ciclo interminável.
Essa ideia pode ser melhor compreendida ao observar-se a trajetória anual do Sol, que "desaparece" no inverno e "renasce" no verão. Dessa forma, podemos considerar o Sol como a representação dos processos de morte e renascimento e esse ciclo permanente como a personificação do relacionamento da Deusa - o eterno princípio da vida - com o Deus - que nasce, cresce, fertiliza a terra, morre e renasce.
O Casamento Sagrado da Deusa e do Deus não representa um incesto, embora ele seja, além de seu consorte, seu filho. É apenas a metáfora de um antigo costume perpetuado em várias culturas ao longo dos milênios, o da união do Rei com a Sacerdotisa para ativar a fertilidade da Terra. Atualmente, essa celebração pode ser simbólica, dedicada a nossa própria união interior, juntando as polaridades ou o subconsciente ao consciente. Visa-se não apenas a fertilidade física, mas principalmente a criatividade intelectual e artística.
A Deusa contém o Deus em sua totalidade; Ela é a Terra e Ele é sua força, o princípio dinâmico e criativo que resplandece, definha e reacende. Eles se complementam e juntos representam a criação.
A sequencia do relacionamento da Deusa e do Deus é retratada pelos Sabbats. Para os celtas, o ano começava em Samhain, quando o Deus descia ao Mundo Subterrâneo e tornava-se o senhor de tudo o que é escuro, oculto e misterioso. A Deusa era a Anciã, a senhora da magia, uma figura paradoxal pois é, ao mesmo tempo, viúva - capaz de compreender o sofrimento humano - e mãe - por carregar em seu ventre escuro o futuro filho, como uma semente de luz.
Em Yule, o solstício de inverno, o Deus renasce, como filho divino da Deusa e de si mesmo. A Deusa, então, assume a plenitude de seu aspecto de Mãe.
Em Imbolc, o Deus e a Deusa são jovens, cheios de energia e promessas, e a natureza e a vida desabrocham.
Em Ostara, no equinócio de primavera, a natureza floresce e se rejubila na antecipação da união do Deus e da Deusa em Beltane. A Deusa como Donzela, abençoa e promove a fertilidade das plantas e da terra.
Em Beltane, O Deus e a Deusa celebram seu Casamento Sagrado,abençoando a fertilidade humana e animal. As bruxas não se casam em Beltane, pois esse mês é guardado para o casamento da Deusa.
Em Litha, toda a natureza frutifica. A deusa está grávida com as plantações que serão colhidas em breve e o Deus está mudando sua face, que começa a tornar-se escura à medida que o Sol se distancia e a luz começa a diminuir.
Em Lammas, o Deus e a Deusa presidem sobre a colheita, mas ele se sacrifica, morrendo quando os grãos são colhidos. É seu sacrifício que vai alimentar a humanidade e oferecer as sementes para um novo plantio.
Em Mabon, a Deusa é uma Mãe amadurecida e sábia enquanto que o Deus é apenas uma presença sutil, percebido nas celebrações das últimas colheitas e nos preparativos para a aproximação da escuridão.
E o ciclo se fecha em Samhain, recomeçando novamente.
É evidente o tema do nascimento, fertilidade, polaridade sexual e morte, repetindo-se de várias formas ao longo dos Festivais.
As celebrações dos Sabbats tem múltiplos e complexos significados, reverenciando a dualidade - Deus/Deusa, homem/mulher, vida/morte, transitório/permanente - e o ciclo das estações, além da passagem do tempo. Mas acima de tudo, os Sabbats celebram a alegria e o encontro da comunidade, podendo ser adaptados ou modificados conforme as condições locais, mas sempre respeitando a Tradição Antiga.
Os Sabbats podem ser celebrados por grupos mistos, por grupos só de mulheres ou, em sua forma mais simplificada, por praticantes solitários.
Nos grupos femininos, dá-se maior ênfase às mudanças e transformações individuais, que acompanham o ciclo das estações e o ritmo da Terra. As mulheres sabem que os ciclos naturais estão presentes em seus corpos, mentes e espíritos e que elas podem aprender a usar o movimento simbólico da Roda do Ano para realizar mudanças interiores ou exteriores. Sentindo-se parte da Terra e a Deusa, a mulher acompanha a natureza, fluindo com os ciclos e percebendo-se como um reflexo da deusa na Terra. Cria-se também um maior sentimento de união e irmandade sabendo que nos Sabbats, mulheres do mundo inteiro se reúnem para celebrar a Terra e o ressurgimento dos valores e tradições da Grande Mãe .

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